HISTÓRIA
A Bruxaria Neopagão, ou “Wicca”, teve o seu início nos anos 40 e 50 com os escritos de Gerald B. Gardner. Apesar de afirmar que era membro de um coven “tradicional” que ele encontrou no sul da Inglaterra, faltam evidências da veracidade desta história, e se o “coven” que ele menciona era autêntico, então pela sua própria descrição eles parecem ter sido um grupo eclético de maçons, hermetistas, rosacruzes e ocultistas e não verdadeiras bruxas “tradicionais”. Os seus próprios registros das atividades e crenças/práticas do grupo testemunham isso. Não há dúvidas de que esta organização tinha tendências e ambições de “reviver” a Antiga Arte, mas isto os coloca na categoria de “pagãos reconstrucionistas” e não de “Bruxas Tradicionais”
Wicca, no seu credo moderno e na sua estrutura ritual, lembra muito fortemente uma versão descristianizada da Ordem da Aurora Dourada (Golden Dawn), com muitas adições thelêmicas e teosóficas, assim como materiais obviamente emprestados de Aleister Crowley e da OTO. Todas essas fontes, as personalidades envolvidas, floresceram na revivificação do ocultismo da primeira metade do século vinte e é do meio do século vinte que a Wicca data. A Wicca reivindica “descender espiritualmente” das antigas religiões pagãs, mas o fato é o de que a sua estrutura ritual e a sua teologia não sustentam quase nenhuma semelhança com nenhuma cultura nativa pagã autêntica da Europa.
A Bruxaria Tradicional, por outro lado, refere-se às crenças e práticas de famílias e organizações secretas da Arte que antecedem o século vinte. Normalmente, apesar de a doutrina e as práticas da Bruxaria Tradicional terem raízes em tempos muito antigos, o tempo mais longínquo que a maior parte das organizações tradicionais podem se datar com alguma exatidão é o século 17. Entretanto, o folclore e a história do século 11 em diante testemunham práticas similares àquelas transmitidas hoje pelas bruxas tradicionais.
FORMALIDADE
Wicca tem uma estrutura muito formal, baseada no modelo de “três graus” de iniciação, um empréstimo óbvio da Maçonaria. A religião wiccan é muito hierárquica, com deslumbrantes títulos de “Alto Sacerdote, Alta Sacerdotisa” e semelhantes e é normalmente orientado para o lado Feminino.
Há apenas duas “tradições” reais de Wicca… Gardneriana (a original) e Alexandrina… Mas desde a explosão do interesse pelo oculto nos dois lados do Atlântico, muitas tradições “ecléticas” surgiram, representando quase todo tipo de distorção cultural e metafísica que você pode imaginar (Wicca Celta, Faery Wicca, Wicca Saxônia, Wicca Diânica etc. etc.)
Há apenas duas “tradições” reais de Wicca… Gardneriana (a original) e Alexandrina… Mas desde a explosão do interesse pelo oculto nos dois lados do Atlântico, muitas tradições “ecléticas” surgiram, representando quase todo tipo de distorção cultural e metafísica que você pode imaginar (Wicca Celta, Faery Wicca, Wicca Saxônia, Wicca Diânica etc. etc.)
Na Bruxaria Tradicional, normalmente, não há uma “estrutura” de grupo claramente definida. Se há, é apenas limitada a uma região, e usualmente não é rígida como a Wicca. Título não são tão utilizados, e quando o são, eles ainda são informais comparados à ênfase da Wicca em títulos. Os grupos tradicionais da Arte podem ter uma liderança, mas esta pode tanto ser masculina quanto feminina, e o seu poder como “cabeça” de um grupo não é o poder exercido pela “Alta Sacerdotisa” e pelo “Alto Sacerdote” da Wicca. Conhecimetno, experiência e a disposição de servir são fatores decisivos para a maior parte dos líderes de grupos tradicionais, e não a egolatria, a coleção de títulos e a fome de poder.
Os rituais e ritos da Wicca também tendem a ser muito formais e escritos previamente à mão… enquanto que na Bruxaria Tradicional, a maioria dos rituais são espontâneos e muito menos estruturados do que na Wicca. Há formas rituais, é claro, algumas formas até muito antigas, mas elas são muito parciais, muito abertas e simples. O “nível interno” do ritual tem mais ênfase do que o externo no trabalho tradicional. A idéia é a de que não é como você faz algo, mas sim, porque você o faz.
Na Arte Tradicional, o progresso de uma pessoa é MUITO mais lento do que na Wicca, na qual uma pessoa pode ser “um Alto Sacerdote de terceiro grau” no espaço que varia de alguns poucos meses a um ano ou dois, ou mesmo mais rápido ele tem em mãos um livro que produz “bruxas instantâneas” publicados pela Lewellyn. Viver a vida, aprendizado e experiência são cruciais para um “progresso” genuíno e “iniciações” de verdade são geralmente experiências que acontecem a um nível pessoal, dadas por poderes de outro mundo, através do tempo. A Arte Tradicional aceita isso.
TEOLOGIA NEW AGE
A Wicca tem muitos conceitos “new age” no seu cânon que simplesmente não encontram lugar no contexto histórico ou cultural da Antiga Arte Européia. Alguns destes conceitos estão listado abaixo:
KARMA: este conceito hindu/buddhista foi levado para a Wicca por Gardner, provavelmente de uma fonte teosófica. Na Arte Tradicional, “Destino” é um conceito importante… mas “karma” nem é citado. Não há a crença na Arte Tradicional de “débitos kármicos” ou de “karma carrega do pela pessoa” devido às suas ações. A verdadeira crença da Arte Tradicional a respeito desses assuntos eram e são muito diferentes dos conceitos orientais de “karma.”
A LEI TRÍPLICE: Esta estranha noção não tem base na história ou na realidade. Enquanto que muitos povos em muitas épocas e lugares têm ameaçado poeticamente as pessoas com a idéia de que as suas ações retornarão a elas “multiplicadas muitas vezes”, a Wicca aceita isso como uma lei física e imutável. A verdade é que enquanto muitos wiccans abriram mão da crença no “fogo do inferno e danação eterna” como uma barreira para as suas ações negativas, eles a substituíram para “lei tríplice”, que ameaça com uma retribuição tripla pela negatividade dos outros. Não existe nenhum traço de uma crença como essa na Arte Tradicional ou em algum sistema de crenças nativo-europeu sobrevivente.
DUOTEÍSMO: A crença wiccan determina que há apenas dois seres divinos, um “deus” e uma “deusa”. Os diferentes deuses e deusas cultuados pelos nossos ancestrais europeus, ou por qualquer pessoa na Terra, são considerados como “aspectos” ou “manifestações” destes dois seres. Assim, “Todos os Deuses são um Deus e todas as Deusas são uma Deusa.” Este reducionismo divino é chamado de “duoteísmo” e não tem precedentes nem na antiga Europa, nem nas crenças das bruxas tradicionais. É, de fato, uma crença moderna. Além do mais, muitos wiccans acreditam que este “Deus” e esta “Deusa” são eles mesmo aspectos de uma unidade divina incogniscível, ou um incrível ser chamado às vezes de “O Uno”… nos levando direto a uma versão new-age do Monoteísmo, muito bem adaptado para facilitar as consciências dos usualmente ex-cristãos convertidos à Wicca.
Nossos ancestrais europeus eram Politeístas. Eles acreditavam em muitos Deuses ou em Deuses locais. Isto é verdade para muitas Bruxas Tradicionais. Há algumas crenças agora (assim como nos tempos antigos) de algumas divindades sendo “maiores” do que outras… quase ao ponto filosófico de transcendência e poder universal. Isto às vezes aparece também na Arte Tradicional, mas na forma de mistérios e não na devoção diárias ou no monoteísmo new-age.
LIVRO DE SOMBRAS: Na Wicca, talvez o “LDS” seja algo real, mas nos Antigos Dias, entre os praticantes tradicionais da Arte Secreta, ter evidências escritas do que você fazia era uma sentença de morte se você fosse pego. Além disso, a maior parte das pessoas antigamente eram completamente iletradas. A Antiga Arte era principalmente passada adiante oralmente e se fosse escrita, isso teria que ser feito de forma econômica.
FESTIVAIS
O calendário wiccano é divido em oito sabás (festivais)… os quatro festivais celtas, os dois solstícios e os dois equinócios.
Entretanto, esta é uma invenção moderna. Os celtas, por exemplo, não observavam os solstícios e os equinócios nos tempos pré-cristãos. Há evidências que sugerem que os bretões nativos (que precederam em muito os celtas na vinda para as Ilhas Britânicas) o faziam, mas os antigos celtas não tinham um calendário óctuplo. Eles não tinham nem ao menos quatro estações… apenas um verão e um inverno. Gerald Gardner, novamente, influenciado por outros ocultistas, em especial, neste caso, pelos druidas “revivalistas” românticos da Inglaterra, que trouxe este conceito inventado de “oito sabás” para a Wicca.
Na Bruxaria Tradicional, os Dias Sagrados celebrados são diferentes de região para região, de Tradição para Tradição e de pessoa para pessoa. Uma tradição agrícola irá seguir os fluxos de plantação e colheita e celebrar festivais de colheita, enquanto que outra tradição poderá celebrar os fluxos solares. Atente para isso, os dias sagrados são sempre regulados pelos fluxos da natureza e são diferentes dependendo de para onde você for. As quatro datas dos antigos celtas (Samhaim, Beltane etc.) podem ser ainda seguidos em alguns lugares, mas, se eles forem, os solstícios e os equinócios tendem a não ser.
É neste tópico que o assunto “seriedade e autenticidade” torna-se mais tenso. É muito comum em círculos wiccanos se ouvir invocações de “Pan, Thor, Lillith e Freya” ou de qualquer outro conjunto de deuses e deusas que o coven sinta-se à vontade para invocar. Com nenhum respeito à cultura ou herança familiar e com nenhuma autenticidade ou contexto histórico, a crença wiccana de que os deuses e as deusas são todos “um só” faz com que os wiccan achem que eles tem o direito de alegremente chamar qualquer combinação de deuses que eles queiram. Esta é um postura imperdoavelmente new-age e mostra uma total falta de seriedade e contexto cultural.
Algumas tradições da Wicca tentam unir-se a apenas uma cultura de deuses e um conceito religioso. Este é passo admirável rumo à realidade. Mas a maioria das tradições não o faz.
Na Arte Tradicional, especialmente nas Ilhas Britânicas, o culto dos povos da terra, e dos povos de algumas gerações atrás, determinam o contexto cultural da tradição. Isso porque a Arte Tradicional é parte da terra, do seu povo e da sua história. Sendo uma invenção moderna e uma mescla de idéias ocultas orientais e ocidentais, falta à Wicca tal base. Muitas tradições da Arte Tradicional das Ilhas Britânicas tem um sentimento Anglo-Saxão ou Germânico/Nórdico e, por trás disso, uma memória familiar da cultura celta. Tradições escocesas e irlandesas tende a ser (obviamente) estritamente célticas.
BONDADE E LUZ
A Wicca, como uma realidade dos dias modernos, com o seu estilo moderno e seguidores quase sempre urbanos, perdeu muito da sua conexão com a Natureza e com a Terra. Wicca aparece como uma religião de “sinta-se bem” e “bondade e luz”, normalmente venerando a sua Deusa da Natureza como uma figura maternal e muito amável e imaginando o mundo invisível como um lugar de poder positivo e repleto de espíritos prontamente dispostos a nos auxiliar. Esta visão completamente desbalanceada, com a sua fixação em como são “maravilhosos” e “lindos” a Natureza e os outros mundos, NÃO é absolutamente como os nossos ancestrais viam os deuses e o universos e NÃO é como as bruxas tradicionais vêem as coisas.
A Natureza é tanto benévola quanto cruel, dando e tirando. Há uma escuridão inerente à Natureza, assim como no mundo natural, na natureza pessoal dos espíritos e dos deuses e também dos seres humanos. Espíritos destrutivos e danosos são fatos da vida, tanto nos tempos antigos quanto agora, e o fato de que a “deusa” está tão propensa a devorar os seus filhos quanto a gerá-los, é também óbvio.
A Wicca tende a ignorar essas trevas, preferindo a visão de “a bondade e a luz.” Isto faz sentido, psicologicamente, para cidadãos modernos dos centros urbanos que nunca vivenciaram as dificuldades de se viver realmente próximos à Natureza.
“INSTRUMENTOS” DE TRABALHO
Absolutamente adequado para um sistema mágico baseado na Golden Dawn como o que a Wicca sustenta, que os “instrumentos” usados pelos wiccans sejam a Taça, o Pentáculo, a Faca e o Bastão, representando os quatro elementos herméticos. O “círculo mágico” traçado é baseado nos círculos mágicos de conhecidos grimórios de Alta Magia, tais como As Clavículas de Salomão, também extensivamente usado pela Golden Dawn. As “invocações dos quadrantes” são baseadas na magia enochiana de John Dee, também ressuscitadas e usadas pela Golden Dawn.
Bruxas tradicionais tendem a não usar conjuntos formais de instrumentos, apesar de terem certos implementos, dependendo da tradição. O sistema de quatro elementos NÃO é comum, apesar de poder haver traços disso em alguns tradicionalistas influenciados pelo pensamento oriental ou hermético.
Geralmente, os instrumentos usados pelas bruxas tradicionais não lembram os “intrumentos de trabalho” da Wicca. Eles tendem a ser coisas como vassouras, caldeirões, cordas, crânios (humanos ou de animais), martelos, espelhos, pedras, chifres, conchas… algumas tradições também usam facas, mas sem nenhum simbolismo new-age. Algumas tradições também não usam qualquer tipo de instrumentos!
Os círculos não são traçados e usados largamente, pelo menos, não tão largamente quanto na Wicca… O termo tradicional para traçar o círculo é “andar em círculo” e freqüentemente há certos lugares da natureza que são suficientes para o trabalho mágico, sem a necessidade de traçar um “círculo.” Quando círculos precisam ser traçados, eles são feitos através de cerimônias tradicionais, que não guardam quase nenhuma semelhança com os métodos da Wicca.
Os espíritos da Terra são invocados para sustentar o círculo e o fogo ritual é aceso… estes são os “elementos” necessários nos trabalhos mais tradicionais. Algumas vezes os espíritos dos quatro reinos ou “direções” são chamados, mas isso varia de lugar para lugar.
A ideia é a de que a Terra já é sagrada… você não precisa “consagrá-la.” Você apenas a habita.
O ALÉM-VIDA
Na Arte Tradicional, há alguma noção de que a alma ou espírito possa entrar em outra fase de existência após a morte e isto geralmente anuncia um retorno ao poder da terra, para viver com os ancestrais e tornar-se um espírito guardião ou talvez anuncie um retorno de fazer parte da dimensão espiritual da Natureza. Deste estado, um renascimento na sua família ou clã pode ser possível, mas é misterioso. Há uma noção bem definida, apesar de naturalista, de uma existência espiritual de todas as coisas, incluindo os seres humanos. O tempo se move em círculos e da mesma forma obviamente faz o poder da natureza e assim a vida e a morte são mistérios confundidos com este fluxo.
Como a natureza é viva, assim como nós, existe a imortalidade. Os espíritos da terra são também os espíritos dos mortos e então a Natureza é venerada em muitos níveis.
Através da aplicação de alguns ritos da Antiga Arte, uma alma pode atingir um nível mais elevado de existência e viver entre a “Companhia Oculta” após a sua morte, mas isto é também um mistério melhor conhecido pelas tradições que ensinam isso.
Esse post me despertou um interesse incomum. Até salvei nos Favoritos rsrs... realmente há diversos aspectos à serem levados em conta. quando comecei nesse mundo, comecei com a Wicca. Não me arrependo, mas ainda vejo que há muito a ser discutido. Hoje sei que não quero me prender a religião nenhuma, só quero praticar da forma correta! Te mandei um e-mail...se puder responder ficarei muito feliz.
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